Por mais respeito ao parto e nascimento e pelo fim da violência obstétrica e neonatal
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Desde criança eu sonhava em ser parteira. Sou filha de índio e meu pai dizia que sua mãe era parteira em uma comunidade no Ceará. Ele disse ter ajudado alguns de seus irmãos a nascer e isso me encantava ainda mais.
* A imagem mostra uma das maravilhosas obra de João Alves – artesão no Vale do Jequitinhonha.
Eu amava ver os partos em filmes, principalmente os que eram os mais naturais possíveis. Já nesse tempo eu também observava alguns ocorridos nas cenas de parto que me chamavam muito atenção, como por exemplo a bolsa rompendo e do nada a mulher começando a sentir dores horríveis. As vezes as cenas de parto pareciam mais com cenas de um filme de exorcismo.
Outra coisa que me chamava atenção nas cenas de parto, principalmente nos mais antigos é que na maioria das vezes o pai era colocado para fora do ambiente onde a mulher estava e só entrava após o nascimento do bebê.
Além disso, tinha os partos estilo “velozes e furiosos” muito comum ainda nas cenas de filmes e novelas de hoje, onde a bolsa rompe e todo mundo começa a correr para a maternidade e o bebê nasce em questão de minutos. E ainda tinhas as cenas tristes onde as mães morriam após o parto.
Em janeiro de 2003 ao voltar de um curso passei mal e fui levada ao hospital onde descobri que estava gravida do meu 1º filho.
Fiquei internada por 5 dias e durante o período que fiquei no setor da maternidade pude presenciar algo que até aquele momento eu ainda não conhecia.
Do meu quarto eu ouvia mulheres em trabalho de parto e “profissionais” do setor gritando com essas mulheres e pronunciando fases como: “na hora de fazer não gritou!”, “se continuar com frescura eu não vou volto aqui ”, “Você não colabora em anda e vai acabar matando seu bebê” e esse foi meu primeiro contato com o que hoje sabemos ser “VIOLÊNCIA OBSTETRICA”.
Outra situação que ainda é muito nítida em minha mente é de uma moça que estava no leito ao lado do meu em processo de abortamento. Ela sentia dores fortes e por diversas vezes chorava muito, por varias vezes ela chamava as enfermeiras e ninguém ia mesmo estando na frente da porta do quarto.
O bebê dela nasceu ali na cama, pequeno, roxo, acredito que tinha entre 14 a 18 semanas de gestação. Só depois de muito tempo que o bebê nasceu apareceu uma técnica de enfermagem que ainda brigou com a moça questionando porque ela não havia chamado ninguém.
A moça dizia que havia chamado por varias vezes e ninguém foi e a técnica foi curta e grossa ao dizer que ela estava mentindo que estava todo mundo bem ali do lado e ninguém ouviu nada. Eu disse que ela realmente havia chamado, e a técnica insistia que não havia ouvido ninguém. Tive ódio dela naquele momento. A moça ainda pediu para ver o bebê e não deixaram.
Por conta dessas situações, ainda na maternidade eu decidi que não iria ter meu filho naquele lugar. Toda vez que entrava alguém no quarto eu já ficava com receio de ser a próxima a passar por todo aquele constrangimento e tortura, Sim! para mim aquelas mulheres estavam sendo torturadas em um momento que era para ser especial e de fragilidade no caso da moça que abortou.
Graças a DEUS a minha gravidez pode evoluir. Eu realizava o pré-natal pelo SUS e não tive uma experiência boa, entrava na sala com uma dúvida e sai com 3 ou mais e o médico sempre com pressa nos atendimentos nunca tocou no assunto parto e quando eu disse que iria parir em uma casa de parto disse que isso era coisa de india que até os nove meses ele iria mudar minha opnião. Mas não mudou!
Comecei a pesquisar e muito para poder ter uma assistência respeitosa para parir e para que meu filho nascesse. Foi quando conheci a Casa de parto Casa de Maria – Fundada em 8 de março de 2002 – bem perto da minha casa. A casa de parto contava com banheiras de hidromassagem, bolas e barras para exercícios de estimulação, além da presença constante de uma enfermeira obstetra e eu poderia ter um acompanhante do meu lado o tempo todo.
Hoje infelizmente desativada e quando entrei em contato para saber o motiva dessa desativação, por incrível que pareça a desculpa foi não haver público alvo para o atendimento, uma desculpa ridícula ao meu ver. Mas em fim, isso é história para outro momento.
Eu continuei meu pré-natal no posto de saúde e também na casa de parto e no dia do parto fui muito bem recepcionada, pude ter meu filho com uma assistência totalmente diferente daquela que eu havia presenciado quando fiquei internada.
A enfermeira obstetra sempre muito educada e gentil, esclarecia todas as minhas dúvidas e as da minha mãe que foi a minha acompanhante, porém o plantão dela acabou antes deu ter o meu filho e outra enfermeira assumiu a assistência, mas também foi super atenciosa e atendia as nossas solicitações. Lá não tinha doula, mas tinha um senhora da cozinha que foi minha doula. trouxe chá, sopa, conversava comigo e foi muito importante tê-la com a gente naquela noite.
No entanto, embora a assistência que recebi tenha sido maravilhosa, não posso deixar de citar que mesmo na casa de parto eu fui submetida a uma episiotomia que hoje eu sei ter sido totalmente desnecessária.
Eu precisava replicar o ótimo atendimento que tive naquela casa de parto (Tirando a parte da epsiotomia, claro!) e fui atrás de estudos e pesquisando sobre enfermeira obstetra vi uma matéria sobre a Maternidade Amparo Maternal que falava sobre o trabalho das doulas voluntárias. Mais uma paixão nasceu em mim naquele momento.
Fiz meu primeiro curso de doula na Maternidade Amparo Maternal, também foi lá que fiz meus primeiros cursos de educadora perinatal e consultora em amamentação. Mas, o mais especial para mim foi o estágio no centro obstétrico. Logo em meu primeiro dia de estagio eu pude ficar ao lado de uma parturiente que estava sem acompanhante e se queixando muito e após eu aplicar o que havia aprendido no curso ela se acalmou e pode ter controle do parto, das dores e sua filha nasceu.
Após o termino do estágio eu me inscrevi para ser uma das doulas voluntarias da maternidade. Optei por atuar em um período que quase nunca havia doulas, que era nas sextas das 23:00 as 07:00. Passei alguns bons anos nesse lugar maravilhoso aprendendo com as mulheres, com cada parto, com cada nascimento.
Como em toda maternidade havia equipes boas e as ruins, aprendi muito com algumas enfermeiras obstetras e minha paixão pela obstetrícia só aumentava e duas delas me orientaram a fazer o curso de graduação em enfermagem e depois a pós em obstetrícia.
No entato logo engravidei da minha filha e adiei os planos para a graduação de enfermagem pois queria me dedicar aos meus filhos.
Nessa segunda gravidez optei por pagar um plano particular. O médico até respondia as minhas dúvidas, mas ao tocar no assunto parto, disse que o plano cobria cesarea e que eu não precisava sentir dor, que era só marcar o dia e tudo ia acontecer rápido e eu teria minha filha nos braços sem sofrimento. todos os médicos do plano recomendavam a mesma coisa “Cesárea”, que “Casa de Parto era loucura”.
Pois bem, continuei meu pré-natal casa de parto com uma enfermeira que havia iniciado a assistência no parto do meu primeiro filho. Porém no dia do parto ela estava de plantão na maternidade que era anexa à casa de parto e como eu queria a assistência dela, aceitei subir para maternidade. Dessa vez, mais informada neguei ocitocina e episiotomia e tive minhas vontades respeitadas. No dia seguinte ao parto eu desci para a casa de parto, onde tive a continuidade da assistência.
Dois anos depois, eu havia acabado de mudar de casa e me preparava para iniciar a graduação de enfermagem, quando descobri estar gravida do meu terceiro e último filho e a graduação foi adiada mais uma vez. Eu cancelei o plano de saúde e fiz o pré-natal pelo SUS novamente. Não queria ter que olhar na casa dos médicos que tentavam me enviar cesárea goela a baixo a todo custo.
Nessa época a casa de parto fechou, e procurando por outra casa de parto achei uma matéria sobre Parto Domiciliar e comecei a me preparar para isso. Estudei bastante e conversei com algumas enfermeiras obstetras que atendiam esse tipo de assistência ao parto e informei meu marido sobre essa decisão.
No começo ele não aceitou muito, mas fui atrás de dados e informações e ele acabou aceitando e me apoiando e encontramos uma enfermeira obstetra para estar com agente no nascimento do nosso filho. Foi uma experiência de parto totalmente diferente das outras duas, tive liberdade de posição, acesso a métodos de alivio das dores, pude me alimentar a vontade, tive a presença da minha mãe, meu marido e meus outros dois filhos. Logo após o parto, jantei, tomei banho e fiquei ao lado da minha família.
Um ano depois finalmente dei início na graduação em enfermagem. Em todas as atividades propostas eu dava um jeitinho de adaptar para assistência à saúde da mulher. Nos estágios eu mal via a hora de chegar à parte de Centro Obstétrico, porém, quando finalmente chegou eu mais uma vez me decepcionei com a “assistência” que muitas mulheres recebiam, pois mais uma vez me deparei com a Violência obstétrica e ainda conheci outro tipo de violência: a VIOLÊNCIA NEONATAL.
Os bebês eram segurados de qualquer jeito, as mães mal podiam ver seus filhos que eram levados para outra sala ao lado do CO para serem aspirados, colocar colírio nos olhos, vacinados, limpos e enrolados em cobertores e deixados chorando no berço aquecido até que mãe fosse levada para o pós parto. Aquilo tudo me chocava tanto que por diversas vezes ia para casa chorando.
Meu TCC não poderia ter outro tema se não Violência obstétrica mas também citei sobre a violência neonatal. E mesmo com os desincentivos por parte da minha orientadora que também era a coordenadora do curso, o meu TCC foi um dos mais pontuados na avaliação geral.
Iniciei a Obstetrícia logo após concluir a graduação de enfermagem e me deparei com mais uma decepção que foi perceber que na graduação condutas sem respaldo científico ainda são ensinadas como sendo algo normal como a realização da “episiotomia” sobre a suposta alegação de ajudar o bebê a nascer e evitar uma laceração de 2º. Sem contar que também foi comentado em aula de sutura sobre o maldito “ponto do marido”.
Também passei o curso todo tendo que defender a atuação das doulas que trabalham com seriedade, pois uma das professoras teve experiências ruins com doulas que realizavam práticas que não éra da competência delas e por isso dizia odiar doula e eu tinha que mostrar que nem todas agiam de forma errada com as que ela conheceu. Sendo doula a 15 anos e sabendo dos benéficos que uma doula pode proporcionar eu não poderia concordar que fosse ensinado as graduandas de obstetrícia que doula era algo ruim e que além disso a mulher não tem direito de escolhas.
Durante os estágios de obstetrícia, mais decepção com a assistência que muitas mulheres recebem no momento do parto. Vi muita Violência Obstétrica e Neonatal, vi muitas mulheres serem privadas de seus direitos e terem seus partos roubados entrando para a estatística das cesáreas desnecessárias. Tive inúmeros problemas no estágio pois não aceitava compactuar com o errado, a professora dizia com boa freuqência a seguinte frase: “Temos que dançar conforme a música”, se referindo a termos que fazer o que já era de rotina na maternidade.
Eu não aceitei isso, não fiz nenhuma episiotomia, mas via colegas de classe fazendo e ainda alegando ter ajudado a mulher. Via boa parte da equipe rindo e conversando alto nos corredores assuntos aleatórios e planejando as viajens da próximas férias, enquanto parturientes necessitavam de uma assistência mais acolhedora. O único quarto de PPP, nunca foi usado pelas parturientes e sim pelas próprias funcionarias para tomar banho e dormir. Vi partograma não serem preenchidos de forma correta e isso resultar em uma interpretação errônea da evolução do parto e a mulher ser submetida a uma cesárea (novamente desnecessárea). E isso tuido é apenas um breve resumo de tudo que presenciei em apenas 15 dias de estágio.
Desde que decidir trilhar o caminho da obstetrícia, eu também decidi fazer a diferença para não ser apenas mais uma enfermeira obstetra.
Eu prometi a DEUS que iria ajudar o máximo de mulheres possiveis, levando informações e orientações para que elas possam evitar passar por tudo que já presenciei e possam ter o parto respeitado e que seus filhos também possm ter um nascimento respeitoso.
O Pré-Natal Ideal faz parte do cumprimento do meu compromisso com DEUS. Além dos meus atendimento sparticulares, desde 2013 eu mantenho um grupo de gestantes com mulheres do Brasil inteiro e umas até de outros paises e a elas eu levo informações atualziadas sobre gradvidez, desenvolvimento do bebê, parto, puerpério, amamentação e primeiros cuidados com o recém-nascido. Além disso oriento sobre violência obstétrica e neonatal e oriento sobre o plano de parto, para que munidas de informações, elas possam ser a protagonista de todo o processo de gestar, parir, amamentar e cuidar de seus filhos,. Podendo tomar suas prórpias decisões em busca de uma experiência positiva de parto e nascimento.
E foi assim que cheguei até aqui e seguirei em frente, cumprindo meu compromisso com DEUS.
Ainda tenho muitos planos para cumprir como enfermeira obstetra e com DEUS ao meu lado, eu tenho a mais absoluta certeza de que irei cumprir todos.
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